Grande Pedrinho, como vai?

Lembra que eu prometi falar um pouco sobre fanatismo?

Ok, é um assunto delicado e eu sei que existem muitas questões sobre o assunto e também que ele é bem polêmico, em sua própria natureza, mas espero que a gente consiga desenvolver uma boa conversa para melhorarmos  nossa compreensão desse fenômeno muito visível e, contudo, mascarado. Por que eu digo mascarado? Porque desde os ataques às torres gêmeas as pessoas só conseguem relacionar fanatismo com islamismo, o que realmente é muito triste.

Dia 11/09 o mundo conheceu os fanáticos extremistas!!!

E qual o motivo para não fazermos tal relação, você me pergunta? Com todo o prazer eu te respondo: por não pararmos para refletir a real composição deste mal que atinge a humanidade desde eras remotas. Sim, o fanatismo não se trata de uma novidade, nem de uma antiguidade, ele está mais para uma anomalia surgida com o início da sociedade humana, já que se trata de um fator que necessariamente requer a interação de duas ou mais pessoas.

Ora!! Deixe-me explicar melhor. Muitos acham que o fanático é a pessoa que possui valores firmes, imutáveis, nem mesmo perante aos maiores enfrentamentos. Ou então se tratam de pessoas que levam religiões, partidos políticos, ou até mesmo esportes como únicos meios de vida, onde nada mais interessa. Sinto informar, mas isso não se enquadra no perfil de um fanático, mas sim no de irredutível e de extremista. Mas como pode um extremista não ser um fanático?

Ok, vou lhe dar um exemplo. Imagine que eu sou torcedor de um time de futebol. Mas um torcedor daqueles de tatuar o escudo do meu clube amado no peito, de saber o nome da sogra de todos os jogadores, do tipo que compra carteirinhas de sócio a mais simplesmente para ajudar meu time a ser o melhor, ou pior, deixo de ir ao casamento da minha filha (sim, estou falando do extremo) porque tem jogo amistoso no mesmo horário. O que eu tenho além de extremo amor pelo meu clube?

Aaah, não adianta ficar ai se mordendo e me acusando. Mesmo sendo um torcedor extremista, não possuo a característica da qual falei anteriormente. Não está em jogo a interação entre duas pessoas. Que tal clarear um pouco esse raciocínio, discutindo o conceito de fanatismo?

De acordo com a famosa (e pouco conceituada para alguns) Wikipédia (EN),  fanatismo se trata de extremismo e irredutibilidade, inclusive com citações de famosos, como podemos ver a seguir:  Fanaticism is a belief or behavior involving uncritical zeal, particularly for an extreme religious or political cause or in some cases sports, or with an obsessive enthusiasm for a pastime or hobby. Philosopher George Santayana defines fanaticism as “redoubling your effort when you have forgotten your aim”; according to Winston Churchill, “A fanatic is one who can’t change his mind and won’t change the subject”.  (Fanasitmo é uma crença ou comportamento envolvendo fervor não racional; particularmente por um extremismo religioso ou uma causa política, e em alguns casos, em esportes, ou com um entusiasmo obsessivo por um passatempo ou hobby. FIlóloso George Santayana define fanatismo como “redobrar seus esforços quando você perde sua missão”; de acordo com Winston Churchill, “um fanático é aquele que não consegue mudar sua posição nem o assunto”).

“Gabriel, você deve estar louco!” é o que você deve estar resmungando, não é mesmo Pedrinho? Permita-me deixar clara minha posição: EU DISCORDO!!!

Amós Oz – Contra o fanatismo (How to cure a fanatic)

A melhor definição que encontrei sobre fanatismo veio de Amós Oz, escritor israelense e ex-combatente da eterna guerra da Faixa de Gaza. Oz, que teve a oportunidade de viver na pele tudo o que vemos pela televisão, nos conta que o fanático é aquele que discorda da sua posição, e que, em contra-partida, acha que a dele é a melhor, a ponto de fazer de tudo para que você mude a sua, mesmo que isso implique te eliminar (nos casos mais extremos).

“Vejamos então, o fanático é aquele que quer impor sua posição sobre a minha, por achar que eu deveria ter o bem dele como meu bem?” EXATAMENTE Pedrinho!!! O fanático em si só quer nosso bem, o problema é a forma que esse processo é feito. Logo, enquanto o nosso torcedor extremista não obrigar as pessoas à sua volta a torcerem pelo seu time do coração, ele não faz parte do seleto time dos fanáticos.

Portanto, cuidado ao pensarmos que não estamos sendo bombardeados por pensamentos fanáticos diariamente. A própria mídia, quando querem manipular as massas, é um exemplo claro do que estou falando. Desde criação dos modismos, ou o famoso Bullying presente nas escolas americanas, que passa a mensagem clara de que “você não é como eu, e por isso vai sofrer”, até o simples fato de imposição de vontade, são sinais claros de um mundo fanático.

Logo, Pedrinho, o melhor a fazer é conseguir reconhecer quando estamos sendo alvo de fanatismo, e procurarmos entender a posição alheia, para que não viremos nós os fanáticos.

É o que eu acho =). Até a próxima quinta-feira, Pedrinho.